quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Mude

Em 2003, talvez o período mais fértil do poeta que existe em mim, tomei conhecimento de um poema chamado Mude. Acho que muitos dos visitantes deste blog também conhecem. Mirem!


Mude (Edson Marques)

Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a
velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com
atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama...
Depois, procure dormir em outras camas
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais... leia outros livros.

Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura.

Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.

A nova vida.

Tente.

Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado... outra marca de sabonete,
outro creme dental...
Tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos
óculos, escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.

Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light, mais prazeroso,
mais digno, mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.

Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!!
Lindo não?

Duas coisas saltam-me aos olhos neste poema. Primeiro, por ele em si. Um verdadeiro guia, não único, para a vida, que é uma só, como uma amiga diz. 2003 foi de fato um ano que muitas mudanças ocorreram na minha vida. Uma verdadeira guinada aconteceu. Saí dos becos e vielas de SP para parar nos pavilhões de uma universidade federal de RS. Então este poema traduz muito bem aquele ano, e o mais curioso e agradável era que eu tinha a ciência de que necessitava de mudanças, e passei a fazer as coisas simples que o poema sugeria, como andar em ruas diferentes, novos caminhos, novas amizades. Como se isto fosse apenas um começo para grandes mudanças posteriores.

Foi bacana regressar à favela e ouvir a rapazeada do Jabaquara falarem pros pivetes: "Aí, moleque, este aqui é um exemplo", "Este aqui é um vencedor, foi parar numa federal", "Estuda!". E, claro, que eu assumia esse papel diante de uma realidade onde é mais fácil buscar espelho num criminoso. Nem eu acreditava que teria este potencial. De fato, minha vida mudou, mas eu fui atrás da mudança. E isto que tento transmitir, captar e prosseguir a caminhada no estilo, hoje será melhor que ontem e pior que amanhã. O que eu mais gostava de ouvir dos meus parceiros era: "Quem diria, hein, CRUJ? Ano passado nóis tava no rolê, e hoje tu tá lá na PQP. Não vai esquecer dos humildes" hahaha. Como se fosse possível.

"O dinheiro tira o homem da miséria, mas não pode arrancar, de dentro dele, a favela." (Edi Rock)

Buenas, mas não era este o foco deste post. Eu havia dito que duas coisas me chamavam a atenção neste poema. A segunda é a confusão das autorias que este poema causou. Num primeiro momento, este poema chegou-me como de Clarice Lispector. Eu tinha adotado tanto este poema neste ano, que um belo dia eu peguei o microfone da aula de literatura do cursinho pré-vestibular e declamei. Depois, corrigiram-me. A real autoria deste poema seria de Edson Marques, um filósofo formado na USP. Mas, eu já vi vídeos e textos que atribuíam este texto ao Pedro Bial, também.

Até a FIAT caiu nesta lorota de Clarice Lispector. A origem da falsa autoria veiculada na internet não arrisco-me a dizer. Mas, a lorota foi tanta, que até o próprio filho da grandiosíssima escritora vendeu o poema por US$ 40 mil para uma empresa de publicidade produzir o filme de 25 anos da marca automotiva no Brasil. Eu imagino o Edson sentado na poltrona e, de repente, ele ouve o teu poema na TV. O autor entrou na justiça e desde a 1ª instância teve causa ganha.


E, semanas atrás, eu deparei com este poema, novamente atribuído a Lispector. Dessa vez, foi no saco de pão de uma padaria daqui do Cassino. Uma iniciativa legal, criativa e inteligente de divulgar textos bonitos, mas que requer cuidados, como em tudo nesta vida breve, para não cometer estes deslizes.

E você? Achava que era de quem este poema?

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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Semana de Laureação no Nobel Prize

Dia após dia, como de costume, temos conhecimento dos laureados ao prêmio Nobel. Para alguns a premiação máxima, para outros, uma premiação política. Evidentemente, que isso varia de acordo com a área do prêmio (física, química, fisiologia ou medicina, literatura, paz e ciências econômicas). Amanhã, por exemplo, será divulgado @(s) premiad@(s) da paz, que talvez seja o prêmio mais criticado de todos. Em tempo, o blog Um pedido, um santo e uma vela já publicou um artigo do Professor Luís Alberto Romano a respeito do desprestígio ao Nobel da Paz. Aqui neste post escrevo sobre os que mais me chamaram a atenção até o momento, o de fisiologia e de física.

Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina

Vamos imaginar uma cidade onde todos os seus cidadãos são reconhecidos por serem vitais àquela cidade. Este governo sabe que a qualidade de vida do cidadão gera enormes benefícios para o próprio município. Deste modo, governantes investiram muito na qualidade do transporte público. Esta cidade assume que um cidadão não pode perder tempo em aguardar pelo seu transporte, muito menos no momento do transporte. Se algo errado ocorrer, as probabilidades do coitado deixar de produzir, perder o emprego, brigar com seus amigos e companheiros, adoecer, endividar, etc, aumentam. E, mais ainda, toda essa gama de possibilidades estão direta ou indiretamente relacionados à riqueza do município. É simples e linear o raciocínio. Uma pessoa precisa chegar a uma estação próxima de sua casa, o veículo deve chegar pontualmente, e a entrega deve ser no espaço e tempo adequado. 

Se você entendeu a oração destacada anteriormente, você entendeu a razão pela qual James E. Rothman, Randy W. Schekman e Thomas C. Südhof foram premiados com o Nobel em Fisiologia. Numa cidade chamada célula, os cidadãos são as moléculas que são vitais para o seu funcionamento. Desta maneira, eles precisam ser extremamente organizados em seu sistema de transporte, pois qualquer falha pode resultar em apoptose. Esses três cientistas laureados descobriram os princípios moleculares que governam como a "encomenda" é entregue no lugar certo e no momento certo numa célula. Randy Schekman descobriu os genes envolvidos no tráfego das vesículas celulares, onde são armazendas as moléculas sinalizadoras de uma resposta. James Rothman estudou a maquinaria protéica que capacita essas vesículas a se fundirem com seus alvos, permitindo a transferência das moléculas nelas contidas a outros compartimentos celulares ou ainda para fora da célula, como no caso de uma sinapse ou de um hormônio a ser liberado no sistema circulatório. E Thomas Südhof revelou a sinalização celular envolvida para que essas vesículas para a entrega precisa destas moléculas sinalizadoras.

Clique na imagem para ampliar

Prêmio Nobel em Física

Uma imagem de uma colisão simulada entre dois prótons
Imagine a irritação de um ateu ao deparar na imprensa e na boca do povo que todos seus estudos que resultaram num descoberta recebeu a alcunha de "partícula de deus". Pobre Peter W. Higgs que, juntamente com François Englert, recebeu o prêmio em 2013. Eles descobriram, há 50 anos, um modelo teórico que explica o comportamento das forças e peças na natureza. Trata-se de uma energia invisível que preenche um vácuo no espaço. Ao se mover, partículas são lançadas umas as outras, dando massa a um átomo. Essas partículas que dão origem ao átomo são hoje conhecidas como bóson de Higgs, ou a contragosto por seu descobridor como "partícula de deus". Sem os bóson de Higgs, átomos não conseguiriam ser formados no início do Universo e a vida como a conhecemos hoje simplesmente não existiria. Uau, né?

Mas, vamos lembrar que essas teorias foram publicadas em 1960, e só para variar, Higgs foi alvo de duras críticas da comunidade acadêmica ao publicar sua tese. Concomitantemente, Englert também chegou a mesma conclusão de Higgs, porém em pesquisas distintas. Apenas no ano passado que o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares, após gastar US$ 8 bilhões no maior acelerador de partículas do mundo, comprovou uma nova partícula subatômica, que poderia ser o bóson de Higgs. Para se ter uma ideia da importância desta descoberta na física, os próprios cientistas físicos afirmam que um novo campo nesta disciplina surgiu, similar a descoberta da molécula do DNA.

Buenas, hoje saiu o de literatura para a canadense Alice Munro, amanhã sairá o da Paz e na 2ª feira o da economia. Nós temos apenas um brasileiro que já foi laureado com o prêmio Nobel. Peter Medawar recebeu o Nobel da Medicina em 1960 pela descoberta da tolerância imunológica adquirida. Entretanto, ele não desenvolvia suas pesquisas no Brasil quando foi premiado, mas sim em Londres.

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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Música de um domingo

Tu 
Letra e música: Luís Pedro F. Silva

Tu tens um sorriso que me cura
mágoas que não posso confessar;
tem tanto calor, tanta candura
que quase magoa, por te olhar.
Tu, apenas tu, só porque m’olhas
gritando e chorando esta canção,
fazes-me sonhar que já recordas
memórias dessa tão dista paixão
em que estavas, enfim,
envolta em véus de mim
tal como eu -
- envolto em véus de ti,
me lembro de sentir
que, em parte, já era teu!

Tu tens o olhar de uma criança
que parece pouco sentir dor.
Noto, em ti, a falsa esperança
de nunca ouvir falar de Amor
Tu, apenas tu, só porque ouves
dás voz e vida ao meu coração
que quer descobrir porque te aprouve
buscar abrigo nessa solidão -
vestir os véus de ti
despir-te dos véus de mim
e esperar
que cresçam só por si
a luz, a cor e um fim
que queiras alcançar.

Tu és uma estrela luminosa
que nunca pára de brilhar;
és uma mulher maravilhosa
que se prepara para amar.
Tu, apenas tu, só porque existes
me dás alento e força para viver
e, se ao grito de amor, tu resistes
nada mais eu tenho a fazer
do que ficar assim
envolto em véus de mim
e tu também –
- envolta em véus de ti,
escusada a sentir
amor por alguém!
Este post começou invertido. Normalmente, escrevo um contexto e depois cito alguma poesia, letra, passagem, etc. Então irei começar, ou terminar, o post.

Certa vez andava pelas ruas no centro de Porto, quando topei-me com um grupo de jovens todos de terno e envoltos numa túnica negra sob um forte sol. Eram um grupo de músicos com diversos intrumentos, praticamente uma pequena orquestra. Meu padastro, que me acompanhava, parou e disse, - É uma Tuna! E ele contou-me brevemente o significado disso. São um bando de acadêmicos, e por que não também dizer, um bando de loucos, a tocar diversos instrumentos, a dançar e a interagir com aqueles que paravam para apreciar aquele carinho aos ouvidos.

Enquanto isso, fomos abordados por um dos integrantes do bando e impressionou-me a eloquência do rapaz: Posso comunicar-te em português? E, apresentou-nos a Tuna de Medicina da Universidade de Porto.

No momento que o rapaz, vestido com uma túnica negra, começou a relatar as despesas que o grupo naturalmente possui, logo saquei o motivo de toda elegância. Entretanto, fui surpreendido, pois ele não apenas queria uma "esmola", mas sim que adquirisse um dos discos do grupo. Não pestanejei e adorei. Esta música que abre o post é uma das canções do álbum Tempo Fugaz, Tu. Lindíssima, não?

Se tu quiseres, podes clicar na palavra Tu, logo no começo do post, e podes fazer o download desta gentileza que disponibilizo aos queridos leitores deste espaço tão meu.

No domingão último, chuvoso, esta música não me saia da cabeça, e por isso, trago a ti esta homenagem.

Tu, apenas tu, sabes quem és tu!

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sábado, 14 de setembro de 2013

Hospede o bem

Foto: Jessica Ladewig
Já diz a sabedoria popular, a primeira vez a gente nunca esquece. E, claro, pois ou ela nos marca pelo prazer de sua novidade, ou pela frustação da inexperiência. Recentemente, eu tive mais uma emoção inesquecível que a trago para vocês, amigos leitores. 

Era uma 3ªfeira, noite agradável no Cassinão. Saí do futsal com a cabeça feita tanto pela boa atuação de meus companheiros, como pelo meu hat-trick. Quem joga bola, mas é grosso, vai entender o motivo da minha satisfação. Parei no posto para tomar um guaraná, suco de caju, goibada para sobremesa.

Eu jogo futebol sem óculos, e achei que tinha reconhecido um amigo meu, fui cumprimentá-lo e saber para onde iria viajar, pois estava acompanhado de um mochilão. Quando cheguei próximo, percebi que não era conhecido, mas como já havia iniciado o cumprimento, não fui grosso e continuei.

- Oh, cara, te cunfundi com um brother. Mas, aí, vai pegar uma estrada então?

Ele me olhou com cara de espanto

- No compreendo, com sotaque castelhano.

- Opa, Uruguay?
- No, Argentina.
- Legal, vai para onde?
- São Paulo.

E começamos um papo breve naquele clássico portunhol. Desejei boa sorte em sua trip e fui em busca de minha gelada. A porcaria é que a geladeira do posto sempre está na temperatura próxima das ALE, embora comercialize pilsen. De todo modo, peguei e saí para trocar ideia com uma outra galera que estava por lá também. Enquanto conversava percebi o hermano isolado, no canto do posto, sentado em cima de seu mochilão e ainda tirava umas cochiladas. Convidei-o para integrar ao grupo, vi que ele tinha um violão e um skate no seu pacote de viagem. Ele veio, e com seu violão acabamos a conversar no bobódromo.

- Tu estás a esperar por alguna persona? Perguntei.
- No, e disse-me que ia dormir ali mesmo, pois estava cansado de seu dia na estrada. Ele vinha de Rivera (URU), e desde Buenos Aires ele veio de boleia.

Poxa, quando ele me falou aquilo, meu coração bateu. Imediatamente lembrei de minha amiga, que conheci em Portugal. Ela integra um grupo mundial de voluntários de pousos. Você se cadastra, disponibilza um quarto de sua casa e estabelece quem pode ficar nele. Desse modo, quando um integrante do couchsurfing vai viajar, ele solicita o pouso àqueles voluntários residentes no destino do viajante e, claro, viaja com menos gastos, que, por consequência, viaja mais. Uma excelente alternativa ao capitalismo turístico. E, essa minha amiga linda também está num mochilão pela Europa. Acho que naquele dia ela estava na Croácia ou recém tinha chego a Itália. Ela tem me contado as histórias das pessoas boas que ela conheceu nessa viagem, toda aquela coisa do flowerpower, sabe? O mundo ideal é possível, o bem irá vencer. E virei pro hermano:

- Tu quieres pousar em mi casa? Puedes se bañar. Pero, la manhana amanhã, yo trabajo. Entón, tienes que salir comigo (assim mesmo, afinal, eu falo portunhol!).

E ele aceitou, claro.

Minha amiga a caminho de Berlin na boleia.
Mas, os loucos se encontram. Se já não bastasse eu e meu recém amigo Martín no bobódromo com cerveja e violão, vi um grupo que se aproximava e reconheci um andar estranho com um óculos fundo de garrafa que segurava uma maletinha. Quem é cassineiro sabe do personagem que falo.

- E aí, Charles, faz um som com o argentino aqui.

Nossa, mas nem criança quando vê um pirulito fica tão excitado quanto este gaiteiro quando ouve um barulho bom. E o privilégio foi todo meu, pois praticamente era o público único de um som agradável, já que o bando do Charles continuou sua caminhada e estacionou mais adiante. Uma das canções eu disponibilizei à rede e você pode assistir abaixo. Perceberá que mais um louco se juntou a formação, corroborando a outra sabedoria popular, os loucos se encontram!



 O som estava bom, mas eu tinha que dormir. Neste momento, umas gurias se integraram a nós e, claro, o hermano era o centro das atenções. Eu virei a ele e disse, Cara, se tu quiseres ficar acho que esta brasileira te dá mole, pode te ajudar no português, um intercâmbio aquela hora não ia mal. Mas, ele não quis trocar o certo pelo duvidoso num dia cansativo como aquele, preferiu o aconhego de um lar garantido. A parafrasear um dito, mais vale um banho quente na mão que duas línguas voando.

Enquanto caminhávamos a minha casa transferi a minha experiência litorânea. Disse que muito provavelmente conseguirá seguir tua viagem na boleia até Floripa. Dali em diante, muito provavelmente, ele terá que gastar com transporte. Sugeri Ilha do Mel, Cananeia, Ilha Comprida e depois um salto a São Sebastião, Ubatuba. Veja bem, adoro o litoral sul paulista, mas o cara era de Buenos Aires, sabia do que falava quando disse de violência. Peruíbe, Itanhaem, Monguaguá, Praia Grande, Santos, São Vicente são praias muito violentas, especialmente com seus turistas. E, claro, virei a ele e ordenei, Se tu chegar a Ubatuba, tu tienes que coñecer Parati. Será que ele irá lembrar dessas histórias?

Chegamos em casa, eu acho que ele tinha uns 3 dias sem banho. Fedia muito, que acendi um incenso para disfarçar a marofa em minha sala. O hermano ficou uma hora no baño. Como se estivesse a recuperar os banhos perdidos e se limpar por mais 3 dias, por garantia. Ainda trocamos umas ideias em casa, ainda tinha um vinhozinho aberto e pus um som para descontrair, numa relax, numa tranquila, numa boa.

No dia seguinte, parece que ele ouviu o meu despertador, pois quando sai do quarto ele já dobrava o saco de dormir. Tomamos café e perguntei de seus planos. Ofereci minha casa por mais alguns dias, inclusive sugeri de ele lavar algumas roupas na máquina. Mas, ele preferiu partir. E me deixou uma barraca, que achei que iria vir buscar depois. Confesso que não compreendi muito bem o que ele me disse quando me entregou a barraca. Não acredito que ele tenha me dado.

E a última lembrança que tenho de Martín foi um agradecimento budista e, em bom portunhol:

- Obrigado!

Fui para a FURG tão feliz na 4ª feira, como fazer o bem faz bem. Aquela sensação de escoteiro quando a boa ação do dia já foi cumprida. E, assim seja feito o bem! Ele nos traz tantos benefícios, que, poxa, como tem gente que faz o mal? Então fica aqui o meu registro e incentivo a oferecer o que você pode oferecer, sem olhar a quem. Sem almejar benefícios próprios, mas sim, coletivos. Amanhã pode ser eu, você, o Martín, a Jessica...

Por falar nisso, eu posso pousar na tua casa hoje? Prometo que tomo uma ducha rápida :)


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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Hoje ele quis te ver

The Hug, Romero Britto

Hoje, deu-me vontade de abraçar-te para compartilhar a vossa alegria. Hoje, deu-me vontade de torcer o teu sucesso. Hoje, deu-me vontade de aplaudir a tua chegada ao ápice. Hoje, deu-me vontade simplesmente de assistir-te explicar os hormônios.

Mas, tu não queres saber do que eu tenho para te dar. Em um mundo tão breve, não deves olhar aos mesquinhos. O futuro é tão rápido quanto o piscar dos olhos. Olhe as pessoas boas que apenas querem o bem.

Eu?... Eu apenas quero amar-te sem ti. Se eu posso?... Oras, desde quando a inquisição soube o que é amor? Como poderiam entender os gregos e romanos diante de sua cegueira medieval? Tudo o que nos dizem de amor foi inventado por aqueles que não sabem amar. Não são capazes de dizer qual o momento da felicidade. Por quê? Eles não sabem de nada! E se tu os indagas, logo vem com suas bravatas dogmáticas...  A preferida é "para sempre". Alguém? Por favor! Explica-me onde fica "para sempre"? Eu quero ser feliz para sempre. Mas, se eu não souber o que é para sempre, como saberei ser feliz agora?

"Enquanto a vida vai e vem/Você procura achar alguém/Que um dia possa lhe dizer/-Quero ficar só com você//Quem inventou o amor?"* Quem inventou o "para sempre"? Oras, oras, o para sempre sempre acaba! E melhor acabar com a certeza de que fui feliz, do que na busca incessante do "para sempre". Mas, sabes o que não acaba? A felicidade, os prazeres... Ou seja! O que não acaba é o... amor.

Sim! O amor é multifacetado. O diabo é que manobra(m) nossas percepções. Nos ensina(m) uma face apenas. O amor sofre metamorfoses e contigo não foi diferente. Diante de um cenário adverso, apenas os fortes perpetuam na evolução. Como as bactérias que adaptaram-se à respiração anaeróbica em ambientes ricos de enxofre, como das fumarolas dos oceanos profundos. Eu sempre terei amor por ti. Mas, veja bem! Não me entenda mal! Trata-se de um amor adaptado. Tornou-se autotrófico, não necessita mais de carinho, de tua companhia, sequer notícias tuas ele pretende ter. Este amor é puro, nobre e não precisa de tua crença. Dizem que um amor assim tem telepatia. E... cá entre nós, é bem melhor assim, não?

Mas, mesmo assim, hoje ele quis te ver. Entretanto, outra qualidade dele é a inteligência. Ele sabe que neste teu tempo, tens a mania de esquecer que a vida é breve e única. Por isso, ele não foi! Por isso, ele não vai! Por isso, ele não irá! Se contentará apenas em desejar-te o bem, doutora! Este dia chegou, parabéns!

A esta altura, o(a) leitor(a) deve estar a se perguntar: quem este cara pensa que é para falar de amor? Fato, meu(minha) caro(a)! Nada sou, senão um pobre mortal. "Quero que tudo saia/Como som de Tim Maia/Sem grilos de mim/Sem desespero, sem tédio, sem fim.."** Apenas desejo amar intensamente TUDO nesta vida. Se acerto ao viver este sentimento do meu modo? Impossível haver uma única resposta correta e outras tantas erradas. Pois, "Quem inventou o amor?/Me explica por favor!"* Ou melhor, deixe para lá! Não almejo perder tempo nesta breve vida. Sigo mais feliz em errar amando, que acertar sem amor.

Diante da correria urbana de São Paulo, um pedido.
*trecho da canção Antes das Seis de Dado Villa-Lobos e Renato Russo que você pode conferir abaixo :)
** trecho da letra Eclipse Oculto de Caetano Veloso.


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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa!

Mas, elas podem se misturar?

Estádio mais caro da copa ilustra um retrocesso, brigas entre torcidas retornam a cancha.

Primeiramente, vamos definir uma coisa, e a outra também.

Uma coisa

20 de fevereiro se 2013, estreia do Corinthians na copa interclubes mais importante do continente americano (posto que mexicanos também a jogam). Kevin Beltrame Espada, um torcedor de futebol apaixonado, decidiu viajar a Oruro especialmente pela oportunidade de ver o atual campeão mundial jogar contra seu time do coração, como revelou em uma reportagem o pai do garoto. Pois bem, uma tragédia do futebol mundial ocorreu. Por que? Algum insano levou um sinalizador marítimo para dentro de um estádio e não foi capaz de ler TRÊS instruções de manuseio. Muito embora que, por mais absoluta segurança que uma pessoa poderia ter em manusear, este artefato jamais deveria entrar num estádio de futebol. Pois bem, a polícia e autoridades bolivianas, sem saberem o autor do disparo, prenderam 12 torcedores brasileiros. Quatro deles, inclusive, já possuíam antecedentes criminais no Brasil.

Detalhe das 3 instruções de manuseio. Repare também o tamanho deste artefato. Faltou fiscalização na entrada do estádio, ou apenas o bom senso dos torcedores?

Nessas horas, muitos falam, fazem um escarcéu contra, outros a favor. E, claro, políticos e cartolas aparecem. Viajaram, inclusive, a Oruro com dinheiro público. Pois bem, o que se tira de proveito disso? Quais as atitudes que as autoridades brasileiras, bolivianas e sulamericanas tomaram para que este 20 de fevereiro seja o último caso de vítima fatal?

NA-DA!

O resultado? No Brasil, um menor, sócio da gaviões da fiel, se entregou a polícia em São Paulo e foi libertado. Na Bolívia, todos os detidos foram libertados. Os processos em ambos os países foram arquivados. Em toda a América e no mundo, torcedores continuam a fazer uso de sinalizadores, embora eu seja adepto desta prática, entretanto, com responsabilidade.

Não é privilégio brasileiro o uso de sinalizadores, muito menos a falta de responsabilidade com estes artefatos. Torcida organizada do FC Porto arremessa sinalizadores e árbitro encerra a partida amistosa com o RC Celta de Vigo (ESP).

Outra coisa

25 de Agosto de 2013, portanto, um pouco mais de seis meses da tragédia de Oruro. Um grupo de empresários adquire o mando de campo junto ao CR Vasco da Gama e decide que o jogo frente ao SC Corinthians Paulista será no estádio mais caro da copa do mundo, o Mané Garrincha. E decide também que será de torcida única. Isto mesmo, leitor(a), torcida ÚNICA.

Vejo a cena destes empresários numa sala cercados de puxas-sacos, chivas e charutos. Eles decidem que a partir de agora, como o estádio possui o selo padrão FIFA, os torcedores agora irão automaticamente mudar seus modos, como num passe de mágica. É muita desinformação destes sangues-sugas. Poxa, eles não tem conhecimento de toda a rivalidade estúpida que as facções insistem em manter, que já gerou inclusive mortes. Uma delas ocorreu em 2009, eu fui a este jogo, vi o ônibus da força jovem do vasco ser incendiado enquanto dirigia-me ao metrô para regressar à casa, em paz, obviamente. Clique aqui para ver uma reportagem do uol sobre este episódio.

Este episódio de Brasília, me faz lembrar de um passado recente, onde outro escarcéu também ocorreu sobre os atos de vandalismo durante a copa das manifestações. - Aliás, aqueles que defendem o fim das organizadas, o vandalismo da copa das confederações deixa claro que este ato não está apenas nestas agremiações, e mostra que devemos tratar o assunto como um problema social, onde não se aceitam as diferenças clubísticas, sexuais, religiosas, culturais, etc!

Nesta época das manifestações, vi uma charge que perguntava: O que é vandalismo? Enquanto pacientes aguardavam atendimento no chão de um hospital. Esta pergunta cabe perfeitamente para este momento. Será que deixar duas torcidas que tradicionalmente se enfrentam sem isolamento não é um vandalismo contra aqueles milhares de torcedores que adquiriram seus ingressos caríssimos, muito provavelmente depois de longa espera nas filas, e que imaginavam apenas estar ao lado de seus amigos, familiares em uma atração desportiva? Estes cidadãos não foram lesados?

Quais os tipos de vandalismo você identifica em uma mesma foto?

Aí, o que acontece depois? O mesmo blá-blá-blá para boi dormir, roteiro de cinema. Alguns são detidos, declaram ser inocentes, assinam um termo de compromisso e são liberados por "falta de provas". Horas seguintes, clubes e respectivas torcidas lançam notas oficiais, que já tem até estrutura literária. Primeiro, a entidade salienta que é contrário a violência. Depois, afirma que auxiliará nas investigações para que os responsáveis sejam exemplarmente punidos.

Podemos repetir uma das perguntas feitas na seção "Uma coisa".

"Pois bem, o que se tira de proveito disso?"

Também podemos repetir a resposta.

"NA-DA!"

Dessa forma, ao repetir a pergunta e a resposta, respondemos a primeira pergunta deste post, uma coisa pode se misturar com outra coisa? Infelizmente, ambas possuem o mesmo fim. Mas, tem mais misturas que podem ser identificadas. A mais urgente, alguns dos detidos em Oruro foram identificados no Mané Garrincha. Mas, mesmo se não fossem nenhum dos 12 presos no país vizinho. Essas pessoas estampam publicamente um carimbo na testa de todos, esses caras possuem imunidade diplomática, e olha que nem deputado possui mais este privilégio, vide Natan Donadon.

É sempre a mesma coisa!

Não é possível que...
- essas pessoas continuam a circular pelos estádios, sem receio algum de punição;
- não se saiba a origem do ingresso dos brigões;
- os empresários detentores do mando de campo ficarem apenas com o bônus (alguns milhões de reais) e deixarem o ônus apenas nas mãos dos clubes;
- as autoridades brasileiras, as mesmas que viajaram até Oruro, não virem a público com a mesma veemência enquanto pediam a libertação dos detidos;
- os cartolas não tratam do assunto nas federações, confederações e até na FIFA;
- considerem este fato como intrínseco a uma entidade, mas não como um problema social onde não se aceitam as diferenças.

Enfim, nunca tive tanta dificuldade em terminar um post, são tantas questões que foram levantadas, mas o que fica é a perplexidade da impunidade dos agressores que vestem uma camisa de um clube e o varrer para debaixo dos panos de um problema social. Varre o político, o cartola, as torcidas organizadas e, inclusive, o cidadão comum, que na primeira oportunidade rotula: "É a torcida do Corinthians!".

Ou seja, no próximo episódio de violência entre torcidas, virá a tona novamente todo este blá-blá-blá para acabar do mesmo jeito, debaixo do tapete. E, haja tapete!

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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

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Semanas atrás apresentei um seminário no integrafisio, um projeto novo de interação dos acadêmicos do programa da pós-graduação de meu doutorado. A novidade foi que até aquela oportunidade os assuntos eram voltados aos trabalhos científicos desenvolvidos naquele programa e, dessa vez, foi um tema voltado a um outro projeto, também da FURG, mantido por voluntários. Trata-se de uma iniciativa de gestão dos resíduos sólidos gerados na universidade, cujo desafio é encontrar um destino sustentável para o lixo orgânico pré-cozido produzido diariamente pelo restaurante universitário.

Mas, por quê a Lupe e eu decidimos falar de compostagem para um público científico voltado à fisiologia animal?

Talvez por dois motivos... três, sei lá, tipo assim... entende?

Um deles é a vontade de cooperar com este projeto de interação entre os acadêmicos do programa. Um outro, também, é a de tornar pública a existência deste projeto bacana dentro da universidade e, quem sabe, recolher novos voluntários. Entretanto, a principal justificativa é expor um sério problema que o Brasil e o mundo enfrentam desde o final do século vinte, a produção de lixo.

Pela mania antropocêntrica de classificar tudo, os lixos também são classificados pela sua origem (aeroportos, construção civil, saúde, mineração, etc). O lixo que nós produzimos cotidianamente são classificados como Resíduos Sólidos Urbanos (RSS). Segundo dados do IBGE publicado em 2010, referente a 2008, diariamente são produzidos cerca de 184 mil toneladas deste tipo de resíduo. Destes, 51% são orgânicos. Ou seja, considerável porção do lixo urbano pode ser convertida em fertilizante orgânico. E mais, o lixo não tratado, pode causar doenças, prejudicar a saúde, além de trazer danos ambientais. Portanto, é nítida a importância desta atividade, assim como o grande desafio a ser enfrentado.


Além de ser ambientamente amigável, a prática de compostagem possui benefícios econômicos também. Segundo o professor do curso de Agronomia da UFSC, Caio Inácio Tevês, em Florianópolis, a redução do custo de coleta e tratamento dos RSS utilizando a compostagem chega a 30% comparada ao sistema de coleta convencional (aterros sanitários). Mais ainda, o município que adota práticas de separação do lixo e reciclagem ainda gera receitas, como o caso do município de Valongo, uma cidade da região metropolitana de Porto, Portugal, com aproximadamente 24 mil habitantes. Em 2012, este município arrecadou mais de 2,5 milhões de euros com a venda e serviços dos resíduos sólidos. Em Garopaba, SC, o município também reduz os gastos com o tratamento dos RSS, especialmente com o transporte destes, e ainda comercializa a terra gerada pela compostagem a pequenos agricultores, como ilustra o vídeo a seguir. É longo (cerca de 11 min), mas vale a pena.


Como é notório, há uma carência estatal nas políticas voltadas ao lixo. Então, podemos justificar que não fazemos a separação do lixo porque não há apoio governamental para isso. Podemos mesmo? Para essa reposta, o plano nacional de resíduos sólidos pretende que todos os atores geradores de resíduos: os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços COMPARTILHEM a responsabilidade com o manejo dos RSS.

A criança ao brincar na praia já se habitua com a coleta seletiva do lixo, que deve estar em todo lugar
(Praia de Porto, próximo ao Castelo do Queijo, Portugal)

Desse modo, sugerimos no integrafisio que você faça a sua composteira em sua residência. É simples, não produz cheiro, pode ser feita em apartamentos e ainda gera uma excelente terra para suas plantas crescerem mais felizes e saudáveis. Portanto, convidamos você a se engajar nessa responsabilidade. Existem diversos vídeos na internet (o próprio acima possui informações a respeito) de como montar a sua composteira em sua casa e quais os cuidados para o perfeito funcionamento. Eu estou a inteira disposição para de alguma maneira contribuir com o seu projeto de composteira e dou o maior apoio, como um dia fizeram comigo. Aliás, torno público o meu agradecimento ao Christian Gobel por ter dado um grande empurrão nesta paixão.

Ah, e quem quiser conhecer o projeto de compostagem da FURG, pode procurar qualquer um dos voluntários ou entrar em contato conosco na nossa página do Facebook.

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

No meu dia...

Nesta onda de manifestações, dei asas a imaginação!
Ganhei 8 ítens relacionados à cerveja.
Agora, possuo ao mínimo 8 oportunidades de brindar.

Ganhei 1 vinho chileno.
Agora, possuo 1 ótimo acompanhante para uma ocasião especial.

Ganhei 1 pacote de incensos.
Agora, possuo várias oportunidades de reciclar a energia do lar.

Ganhei 1 livro com uma linda dedicatória.
Agora, possuo uma incrível viagem sem sair do lugar. E, mais ainda, um consolo quando dele precisar.

Ganhei 1 cueca do metal numa caixa também dedicada.
Agora, possuo um motivo para fazer as minas pirarem no rock.

Ganhei 1 flor.
Agora, possuo um motivo para sorrir.

Ganhei 1 caixa de bombom personalizada.
Agora, possuo motivos para adoçar a vida.

Ganhei 1 pôster do Corinthians.
Agora, possuo eternizado uma conquista inédita.

Ganhei 1 declamação de um poema.
E agora, eu possuo um amparo para as incertezas de uma partida.

Ganhei 2 apresentações de duas bandas.
E pude desfrutar as melodias que delas saíram.

Ganhei 1 espaço.
E neste espaço eu me encontrei.
Percebi que de nada valem os presentes
se não enxergarmos a alma do sorriso.
Notei que vale nos entregarmos 
à cada oportunidade de fazer o bem, bem feito!

Aos 30 anos, eu ganhei uma festa
que não seria nada, absolutamente nada,
se não fosse a minha caminhada do viver.
Ah, como Pessoa foi feliz em escrever
que quando não nos apequenamos, tudo vale a pena.

Não a toa, o melhor presente que ganhei foi...
O carinho! 
O carinho que cada qual, 
ao seu modo sem igual
demonstrou, eu jamais esquecerei
e, esta festa para sempre levarei.

Querido, 
foi uma das coisas que mais ouvi.
Ah, como é muito bom ser reconhecido
por aquilo que somos, aqui e ali.

E, eu olhei!
Visualizei que o amor
é um motor auto-suficiente.
Muito embora, se necessite de um posto.
Mas, quem abastece o amor, 
é somente outro amor.
Um motor a base da reciprocidade,
uma lógica entre amar e ser amado.

Logo, continuarei a ser eu!
Louco? Também! 
Mas, mais ainda quem me diz
que não é feliz!

Muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado.

De um modo, ou de outro, VOCÊ fez a minha vida ser mais feliz!

Muito obrigado, e, 
por isso, se for preciso, 
Amigo, conte comigo!
DEGRAUS | Hermann Hesse
Assim como cada flor murcha e cada juventude
Cede à velhice, assim floresce cada degrau da vida,
Assim floresce cada sabedoria e cada virtude
A seu tempo, e não pode durar eternamente.
Deve o coração a cada apelo da vida
Estar pronto a despedir-se e a começar de novo,
Para, com coragem e sem lágrimas se
Dar a outras, novas ligações.
E em cada recomeço reside um encanto
Que nos protege e que nos ajuda a viver.
Devemos alegremente atravessar espaço após espaço,
Não ficar preso a mais que uma terra,
O espírito do mundo não nos quer prender ou parar,
Mas elevar-nos degrau por degrau, e aumentar.
Mal nos entramos num círculo de vida,
Habituados intimamente, ameaça-nos o torpor,
Só aquele que está pronto para a Partida e Viagem,
Se furtará à paralisia dos hábitos.
Talvez também até ainda a hora do fim
Lançará nós, jovens, para novos espaços,
O apelo da Vida nunca acabará …
Vamos então, Coração, diz adeus e cura!
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quarta-feira, 3 de julho de 2013

O que me importa?


O poder da música pode ser observado já em crianças
Certamente você já ouviu a música de Dado Villa-Lobos e Renato Russo, Quase sem querer. Assim como na letra, eu também tenho andado distraído, impaciente e indeciso.

É curioso este poder que as músicas possuem de caber num determinado momento que vivemos. Quantas vezes dissemos ou escutamos: Esta música é minha. Eu tenho uma música que meu papai me dedicou, a da mamãe, até da minha primeira ex. A minha amiga tem outra dela, e você tem a sua, muito provavelmente até mais de uma. Tudo é uma questão de estado de espírito. Milton Nascimento, em parceria com Tunai, compôs sobre esta capacidade musical de nos amparar, consolar, alegrar, comemorar, amar, sofrer e o que você quiser que ela faça. (OBS.: Se você clicar nas palavras papai, mamãe, ex e amiga você saberá quais são essas músicas).
Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz?
Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor
Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração pro cantor
Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono, ou mar
Carvão e giz, abrigo
Gesto molhado no olhar
Calor que invade, arde, queima, encoraja
Amor que invade, arde, carece de cantar
Evidentemente, as mais marcantes falam de amor. E, não é difícil entender porquê. Um compositor da velha guarda disse para Marisa Monte, enquanto ela produzia o álbum Memórias, Crônicas e Declarações de Amor: “Por trás do amor está a solidão. Daí ele acarretar tantos sentimentos distintos. Antes do amor somos sozinhos.” O “cara” que disse isso compôs uma música que não me sai do pensamento, seu nome é Cury Heluy, que compartilho com vocês, O que me importa.
O que me importa seu carinho agora
Se é muito tarde para amar você
O que me importa se você me adora
Se já não há razão pra lhe querer
O que me importa ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis você nem mesmo soube dar amor
O que me importa ver você chorando...
Se tantas vezes, eu chorei também
O que me importa sua voz chamando
Se pra você jamais eu fui alguém
O que me importa essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais tristezas pra chorar que o seu...
O que me importa ver você tão triste
Se triste fui e você nem ligou
O que me importa seu carinho agora
Se para mim a vida terminou
Terminou... terminou...
Curiosamente, minha mãe me mandou um email essa semana citando uma outra música, que também cabe perfeitamente neste momento de minha vida. Não é difícil sacar né?



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segunda-feira, 27 de maio de 2013

A sorte ajuda os animais


0,0000000001% de possibilidades desta história acontecer novamente. Boa leitura!
Esta é a continuação do post Vivemos para contar, que você pode ler clicando aqui.
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- Boa noite, disse o policial iluminando o interior do carro com sua lanterna.
- Er, boa noite!
- Documento do carro e habilitação, por favor.
- Claro! -e comecei a ficar tenso, pois eu não possuía o documento do ano em vigor, apesar de a documentação estar em dia.

Enquanto procurava os documentos solicitados, o policial iluminava o rosto de cada um dos sete integrantes da viagem.

- Aqui estão -entreguei os documentos já começando a explicar. O documento deste ano o antigo proprietário ainda não entregou, mas ela está dia, senhor.

O policial examinava os documentos, enquanto deu uma volta na toyota.

- Sr. Renato, o senhor pode me acompanhar aqui no posto.
- Claro!

Antes de descer da toyota, olhei para a galera com aquela cara de desespero, que rapidamente contagiou o resto do pessoal. O posto ficava do outro lado da faixa, e enquanto atravessava a pista estava a pensar: Pronto! Agora os policiais vão querer um cafézinho, mas eu não tenho nada, nenhum puto para oferecer. Assim que entrei o policial dizia:

- É seu Renato, a coisa complicou para o seu lado.

Neste momento lembrei que eu possuía a permissão para dirigir e que não poderia tomar nenhuma multa gravíssima, ou atingir uma pontuação X de infrações, pois, caso contrário, eu perderia o direito de dirigir.

- Eu vou tomar uma multa gravíssima? -perguntei com uma cara de mais desesperado ainda.
- Uma? Renato, eu vou listar para você as multas que você será autuado. Eu te parei porque o teu veículo estava com um dos faróis queimado. Quando você parou descobri que havia excesso de barulho e, depois, de passageiros. O senhor não porta o documento vigente de seu veículo, embora ele realmente esteja em dia, e eu ainda não quis vistoriar o interior do seu veículo, mas acredito que posso encontrar entorpecentes no interior dele, não?

Eu pergunto a você, leitor(a), o que você faria diante desta situação, todo errado e sem dinheiro?
Sem alternativas do que fazer, pensei rápido, eu preciso trazer esses policiais para o meu lado e comecei uma verdadeira dramaturgia em plena madrugada dentro do posto da polícia rodoviária federal.

- Não, seu guarda, mas você não pode fazer isso comigo, seu guarda. Pelamor de Deus, seu guarda. Eu deixei de fazer um monte de coisas no ano passado por causa deste carro, seu guarda, desta porcaria. Era oficina mecânica, era DETRAN, era o antigo proprietário me cobrando, eu trabalhei seis meses da minha vida para fazer esta viagem de fim de ano. Eu não posso acreditar, nisto, seu guarda. Se o senhor aplicar todas essas multas que o senhor listou aí, eu vou ter que voltar pro mar, tenho que pular mais 7 ondas, não é possível. É muito azar para começar um ano novo assim, desse jeito, seu guarda. Por favor, não faça isso comigo.

Pude perceber que minhas habilidades de persuasão estavam a resultar em êxito e que os policiais passaram a se divertir comigo e com aquele drama todo.

- Não eu não posso acreditar, essa lacraia só me trouxe tristeza, eu não posso acreditar o quanto ela está me arruinando. Não tenho dinheiro, porque o que ganho é para pagar peças, não tenho final de semana, porque sempre tenho serviços para fazer nela e agora eu não tenho réveillon. Eu não acredito!

Aí um deles me perguntou:

- Você está viajando para onde?
- São Paulo, senhor.
- Olha, Renato, acredito que este teu veículo não seja tão veloz, mas reduza a tua velocidade.
- Por quê, seu guarda? – Confesso que não tinha captado ainda a mensagem.
- Porque eu parei você devido os teus faróis queimados. Daqui algumas horas amanhece e seria interessante você passar no próximo posto policial já com os faróis apagados. Boa viagem! Disse o policial me entregando os documentos.

Quando ele disse isso, eu não acreditei, mas também não queria dar tempo para o policial se arrepender do arrego que me dera.

- Seu guarda, muito muito obrigado! Disse enquanto retirava os documentos da mão dele, e ainda soltei: Percebi o quanto vocês são honestos, mas de coração, seu guarda, eu não tenho nada para oferecer um cafézinho a vocês, apenas a minha gratidão.

Eles me acenaram com aquele tchau, vai embora logo!

Atravessei a faixa, abri a porta do jipe, olhei para todo mundo assustado.

- E aí, Cruj? O que aconteceu?
- Os homens por favor, desçam do carro que a toyota não tem mais partida, precisamos dar um tranco nela, e rápido.

Eu gostaria de ver a imagem como um terceiro observador, um bando de homens empurrando a toyota sem escapamento no acostamento, dois policiais de braços cruzados do outro lado da faixa e um motorista bobo acenando para os policiais.

- Tchau, seus guardas, muito obrigado, feliz ano novooo!

BRUUUUMMMMMMMMMMM!

E foi assim a minha primeira viagem com a GUERRERA. Uma divertida aventura, que por pouco não tornou-se trágica, não? 0,0000000001% de acontecer novamente.

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