sábado, 26 de setembro de 2015

Sobre copos, migração, mochilão e amor

Minha casa é meu caneco, minha cidade é meu boteco. Desce a saideira de afeto. Embrulha pra viagem, poe na bagagem. Volto logo e noutro copo de vocês me afogo - Tássia Reis
Nunca fui fã das pessoas que possuem preconceito da pegação. Sim, há uma visão negativa generalizada tanto daquela mina que é capaz de dar de primeira quanto daquele cara que está na balada à caça. Claro que com mulher ainda é pior, afinal, de acordo com Fábio Porchat, somos todos machistas (para entender, clique aqui).

Diversas razões repelem-me destes seres. A primeira delas é a hipocrisia e nem pretendo entrar em mérito aqui. Mas, com certeza tu conheces alguém que fala mal pelos cotovelos da X e do Y, mas numa rápida oportunidade, já lá está a fazer aquilo que julga errado apenas nos outros. Porém, acho que a hipocrisia é resultado de outra questão que é: por quê a pessoa "galinha" é mal vista?

Se uma pessoa viaja muito ela é viajada. Se possui gosto musical diversificado é eclética. Se é conhecedora de cervejas é cervejeira. Se adora diversificar na culinária é gastronômica. Porém, se por acaso tu adoras experimentar relações com outros seres humanos, és qualquer adjetivo pejorativo! Por quê cargas d’água a sociedade não aceita a tua decisão de conhecer diferentes formas de relacionamentos ao estar com diferentes pessoas? Por quê, cara pálida?

Penso que experiências passadas são essenciais para relações intra-humanas (não utilizei a palavra casal em respeito ao poli-amor) bem sucedidas. Tal qual o paladar, se não conheces o gosto do azedo, não saberás diferenciar do amargo, do doce, do salgado ou do umami. Para ser um(a) bom(a) enólogo(a) é necessário experimentar as castas individualmente, diferir safras e regiões, avaliar as misturas para atingir as melhores seleções. Apenas com este paladar diversificado um(a) profissional competente irá saber qual a melhor harmonia para cada ocasião.

Casal de Albatroz-de-Sobrancelha-Negra (Reprodução)
Neste jogo de descobrimentos, quanto menos relações tu experimentares, maiores são as chances de não saberes o que procura. Qualquer animal migratório possui um destino, a reprodução. Se ele não migra para o ato, migra para obter energia para tal. Dentre os fatores que influenciam sua rota, a disponibilidade de alimento se não for o principal, é um deles. Se a praça de alimentação está boa, lá estará até que já não valha mais a pena, do ponto de vista energético, estar ali. Esta é a estratégia que estes animais optaram para lidar com a escassez sazonal de alimentos.

Penso em uma analogia com nós, humanos. Necessitamos viver um periodo migratório. Se eu não souber de que daqui a dez milhas de mim há um cenário melhor, certamente eu estarei a perder oportunidades. Ou se, ao contrário, não souber que em um passado recente o cenário foi pior, posso não valorar o presente. Portanto, relações passadas servem-nos para dar valores às atuais, prós e contras. Assim, uma situação de desequilíbrio a tender constantemente para o contra, amigão ou amigona, vaza! Busque as melhoras! — Diria até que o equilíbrio desta balança também pode ser um convite gentil para bater asas. Mas, novamente, só conhece sabores quem provou.

Evidentemente, a próxima parada da migração é uma incógnita a estes animais. Mas, caminhar, nadar, voar são necessários para mante-los vivos. Em nós humanos, esta adrenalina do desconhecimento do próximo destino alimenta uma alma viajante. Permite permitir-nos! Ninguém nasce um bom mochileiro. Nem um bom mochileiro é aquele que muito viaja. Um bom mochileiro permite as descobertas e consequentemente está em constante auto-conhecimento. A partir de então colhe os frutos da boa estima, da segurança e de seus limites. Em miúdos, garante-se para quando no momento certo, no local certo e com a pessoa certa for o caso de entregar-se a uma paixão! E quando corações bem resolvidos encontram-se, estes são complementados e não preenchidos.

Por isso também que não boto fé naquelas pessoas que pulam de relacionamento para outro. Não permitem o calar natural do luto. O luto, tal como o medo, põe-nos à prova, leva-nos às avaliações e permite-nos à reciclagem. Adotam a máxima de curar um amor com outro, mas estão suscetíveis podem cometer um erro grave: esquecer que o melhor remédio é o amor próprio, que engrandece-se após os lutos. Na prática, buscam em corações alheios o preenchimento para o vazio de seus próprios corações.



Por isso, defendo a vida de solteiro. Sei que devemos ter muito cuidado com as generalizações, mas um(a) solteiro(a) bem resolvido(a) saberá a hora certa dos momentos. É mais ou menos como outra máxima de bar, enquanto não acho a pessoa certa, divirto com as erradas! E uma pessoa certa não significa aquela até que a morte os separe. Significa aquela que tu irás até o fim com ela. E este fim pode ser amanhã, daqui seis meses, ou no fim de tua vida. Não tenhas receios em entregar-te por esta pessoa. Não sejas egoísta ao adotar a cautela como uma estratégia de defesa para "doer menos à frente". Vive o presente! Ama! Caso contrário, virará passado e sem o teu deleite. Gozes no início, no fim e no meio!


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