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Tap House Pub, Hampton, VA, USA - 2007 |
Certa noite de domingo, sai em procura de um lanche na gelada cidade de Hampton, da conservadora Virginia. Fui ao pub preferido, mas lá fui informado que a cozinha já fechara. Era uma rua cheia de pubs, então saí e entrei no do lado e perguntei:
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Do you have dinner?
A garçonete respondeu positivamente e me perguntou se eu queria,
Yeah! Aguardava o cardápio, mas a mulher pegou um copo grande estreito que alargava na boca, se dirigiu a uma das várias bocas de chope e foi lentamente servindo, aguardava a espuma baixar, adicionava um pouco e assim até completar. Achei que era um pedido anterior ao meu. Mas, ela veio em minha direção, pôs o copo no bar.
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Enjoy it!
Comecei a dar risada, expliquei o que realmente queria, ela se divertiu explicou que a cozinha, assim como no
Marker 20, estava fechada e acabei que jantei o chope. Mais tarde vim a descobrir que trata-se de um "pão líquido", então fazia sentido o acaso desta situação. Acredito que o motivo de tal desentendimento foram a pronúncia do chope ser semelhante a da janta em inglês e o sotaque estrangeiro de quem recém chegou à gringa.
Quem não comunica, se trumbica.
A história da cerveja se confunde com a história da humanidade. Está provado, desde o neolítico, que o homem trabalhava além do necessário para a ferramenta ser útil, logo havia reais chances do produto da fermentação alcoólica fazer parte desta inspiração. Assim, não se tem conhecimento exato da primeira cerveja produzida. Especula-se que há mais de 10 mil anos o processo de fermentação já era realizado pelos sucessores do
Australopithecus. Entretanto, prova arqueológica concreta é proveniente da Mesopotâmia no quarto milênio a.C. Tanto as altas classes ocidentais, sumários, babilônios e egípcios, como os orientais, chineses e japoneses realizavam suas confraternizações regadas à cerveja ou
sake. Sim, o saquê é uma bebida fermentada do arroz e não destilado como algumas casas publicam em seu cardápio. Na Grécia e na Roma, a preferência era o vinho, tutelado por Baco. Neste período a cerveja perde o
status quo, passou a ser a bebida das classes baixas, típica dos povos bárbaros. Embora tenha perdido seu
status, a fabricação da cerveja evoluiu durante o período grego e romano.
Alô, Teresinha!
Feminino, esta bebida não poderia ter outro gênero. Desde o princípio a mulher tem seu lugar nesta história. Acredita-se que ela surgiu acidentalmente, numa fabricação de um pão. Na Suméria, esta atividade era caseira e realizada pelas mulheres. Já os homens gozavam nas tabernas, que eram geridas por elas. Comiam e bebiam o produto das mulheres. Talvez a grife mais antiga deste líquido seja Siduri, uma famosa taberneira citada na Epopeia de Gilgamesh. O nome cerveja também tem origem feminina. A bebida horrível dos Germanos e dos Célticos, como Tácito classificou, passou a ser chamada de cervisia ou cerevisia em homenagem a Ceres, a deusa romana da agricultura e fertilidade. Também empresta o nome ao microorganismo de metabolismo anaeróbico facultativo,
Saccharomyces cerevisiae, a levedura. Portanto, queria deixar o meu mais um: muito obrigado a vocês, mulheres do planeta Terra e suas ancestrais. Por mim, se expandiria para 365 dias, o dia da mulher.
Na era medieval, os mosteiros passaram a ser os centros cervejeiros que impulsionaram a produção e o consumo da cerveja. Ou seja, a taberna entrou nos mosteiros. Não à toa, a igreja destinou a três santos o papel de serem padroeiros, protetores da cerveja e dos cervejeiros, Santo Agostinho de Hippo, São Nicolau e São Lucas. Evidentemente, os plebeus não tinham acesso, não eram
very important person (menção honrosa para o filme estrelado por Wagner Moura, VIPs, clique
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teaser). A mulher, neste momento, ainda contribuía no fabrico da cerveja, porém em processos rústicos. As cozinheiras fabricavam o pão molhado e deve-se muito a essas guerreiras a popularização da cerveja em muitas zonas da Europa. Não raro, o povo preferia cerveja à água, pois, nesta época, as más condições sanitárias contribuíam para tal já que a produção da cerveja eliminava muitas das impurezas contidas na água. Especulo até que, neste momento, nasce o termo que tanto brindamos, Saúde. Entretanto, uma prática incorporada até hoje ganhou força nos mosteiros. O uso do lúpulo (
Humulus lupulus) no fabrico da cerva foi por razões técnicas dos monges cervejeiros, pois além de tornar as cervejas mais frescas devido ao seu amargor natural, as ajudava a conservar, já que possui propriedades anti-sépticas. Os monges eram malandros, no período que eram obrigados a jejuarem, produziam uma cerveja mais agradável ao palato e mais nutritiva. Assim, driblavam a abstinência de ingerir sólidos. Há relatos de monges que eram autorizados a ingerirem cinco litros de cerveja por dia. Salve o papa! Os conventos mais antigos a iniciarem a produção de cerveja foram os de St. Gallen, na Suíça, e os alemães Weihenstephan e St. Emmeran. Os beneditinos de Weihenstephan foram os primeiros a receber, oficialmente, a autorização profissional para a fabricação e venda da cerveja, em 1040 d.C. Com todo este orgulho, esta é a cervejaria mais antiga do mundo ainda em funcionamento e hoje é conhecida, principalmente, como o Centro de Ensino da Tecnologia de Cervejaria da Universidade Técnica de Munique. Vale a pena dar uma conferida no
website dos beneditinos, você pode conhecer um pouco mais da história, baixar o hino, e até se divertir com um jogo de abrir garrafas de cerveja. Mas, o que vale mesmo a pena, quando tiver a oportunidade, é apreciar uma Weihenstephan.
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Apreciando o chope escuro de trigo da Weihenstephan, a cervejaria mais antiga do mundo em atividade (Tap House Pub, Hampton, VA, USA - 2007) |
Como reportei, os monges serviram de grande contribuição ao fabrico da cerveja. E parte disso, foi porque produziam cerveja com tudo que lhes vinham a mente. Esta prática não se limitava apenas aos monges e de fato, ingredientes estranhos aromatizavam as cervejas como, por exemplo, folhas de pinheiros, cerejas silvestres e ervas variadas. Seria proibido produzir cerveja sem cevada? Esta era a dúvida sobre a cerveja nesta época. Tanto que em 1516, surge o que chamo do acordo vigente mais antigo e popular do mundo, a lei da pureza, instituída pelo Duque Wilhelm IV da Baviera. A Reinheitsgebot tornou ilegal o uso de outros ingredientes no fabrico da cerveja que não fossem água, cevada e lúpulo. Vale ressaltar que nesta data havia a ignorância da levedura neste processo. Mas, o curioso que hoje revivemos a história. Pequenas cervejarias, muitas dotadas de alta tecnologia, reconstroem os sabores que os porões da igreja queimaram. Para sorte nossa e das pequenas a inquisição sofreu uma metamorfose e podemos ter acesso, embora quase que como hereges nesta atual política capitalista, aos mares nunca antes navegados por este Brasil. Hoje, uma cerveja artesanal é o oposto do marketing rotulado pelas primeiras grandes companhias de cervejarias do Brasil, de cervejas leves, geladas e refrescantes. Na verdade, por óbvias razões econômicas, as cervejarias nacionais alteraram a formulação, diminuíram a quantidade/qualidade dos maltes e botaram, literalmente, água no chope. Para mascarar o paladar, nada que uma anestesia nos botões gustatórios induzida pela baixa temperatura não resolva, afinal moramos num país tropical.
E, aqui está uma coisa que parece besta, mas é um barato. O encanto da zitologia medieval pode ser servida via uma cervejaria bacana que oferece cervejas dos mais variados estilos. Quem estiver pelo Cassino, sugiro o
Monaghan's, na avenida Rio Grande, 288. Vida longa aos rapazes desta iniciativa! Em Porto Alegre, conheci recentemente o
Parangolé, na rua Lima e Silva, 240, na cidade baixa. Além das cervejas, da boa música e da decoração, a capa do cardápio deles era um mini-vinil, um barato. E, na minha e da garoa terra, fiquei com uma baita vontade de visitar a
Cervejaria Nacional, que conheci enquanto dedicava minhas pesquisas a este post. Evidentemente, pessoas feias nestas indicações não ocorrem, seja antes ou depois das cervejas. Mas, a bem da verdade é que…
Eu vim aqui pra confundir e não para explicar!
Um brinde ao Chacrinha!
Eu pretendo voltar a escrever de/com cerveja com vocês, claro! Até o próximo encontro!
Prosit!
O que achou?