terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O fim do mundo

Em 2012, a falácia da sociedade ocidental foi de que o mundo iria se acabar de acordo com o calendário Maia. O que para os povos maias significava apenas o fim de um ciclo, para os ocidentais era o fim do mundo. E o mundo se aproveitou dessa falácia. Comerciantes capitalizaram, amantes enamoraram, caretas boemizaram e rockeiros sambaram. Mas, o tal do mundo não se acabou. 

Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
(trecho do samba E o mundo não se acabou de Assis Valente)

Será mesmo que o mundo não acabou? Ou melhor, qual mundo referiam que se acabaria em 2012?

Não sou nenhum historiador da civilização Maia, porém, não me parece que possuíam uma obsessão por monopolizar a raça humana aos Maias, como outros povos ocidentais, com seu extremo aos nazistas.

Então, eis que em 2014, justamente no berço da civilização Maia, Cusco, um jogador negro a cada toque na bola era insultado com atos racistas por torcedores peruanos. O volante Tinga trocaria seus dois títulos da copa libertadores, um campeonato brasileiro e diversos outros por “uma igualdade em todas as áreas, em todas as classes”. Tinga relatou que nem durante sua passagem pelo futebol europeu, quando atuou num clube alemão que, diga-se de passagem, foi o berço do nazismo, o futebolista passou por algo semelhante ao de última quarta-feira. Perceberam a curiosidade na vida de Tinga? Peruanos foram racistas e alemães igualitários.

Volante Tinga quando foi apresentado na Alemanha
em 2006 e por lá atuou por 4 temporadas
Será que o fim do mundo que se referiam condiz com um mundo que não aceita diferenças? Um mundo que julga constantemente os atos alheios como certo ou errado? Que faz piadas por causa de uma peça de roupa que foge dos padrões? Intolerante, onde a vida de um ser humano é descartada por uma discussão no semáforo?

Diante deste episódio no Peru, diversas manifestações surgiram em nossa frente nos mais diversos meios de comunicação. Ex-companheiros de clubes, treinadores, cartolas, torcedores rivais e até a presidentA solidarizaram ao cruzeirense. Junto do repúdio público ao racismo, quem também dá as caras é a hipocrisia. A hastag fechado com o Tinga foi reproduzida, de norte a sul do país e do mundo, pelas mesmas pessoas que transitam em edifícios cujos elevadores são separados em “social” e “serviço”. Por torcedores que carinhosamente se dirigem aos rivais por macaco. Pessoas que sequer dão bom dia a trabalhadores que convivem em seus cotidianos.

E, então? Qual mundo se acabou?


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