quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Declame! Há uma poesia em você.

O bibliotecário (1566), de Giuseppe Arcimboldo
"Não há poeta sem pacto com o capeta. O caldeirão que se vai arder no inferno é uma questão de escolha" Roberto Juliano
Não foi desde sempre que interesso-me por poesias literárias.

Muito embora sempre tive contato com elas, posto que sou filho de dois ex-professores, um deles formado em letras português-inglês. Eu também rabisquei algumas letras para a banda de forró que integrava nos anos 2000. Entretanto, foi no ano de 2003 que despertou o poeta escondido -Pois sim, em todos nós há um poeta adormecido.

Irremediavelmente metamorfose de Paulo Leminski

Que existe mais, senão afirmar a multiplicidade do real? 
A igual probabilidade dos eventos impossíveis? 
A eterna troca de tudo em tudo? 
A única realidade absoluta? 
Seres se traduzem. 
Tudo pode ser metáfora de alguma outra coisa ou de coisa alguma. 
Tudo irremediavelmente metamorfose!

E foi graças a um professor de literatura do cursinho pré-vestibular da poli, Roberto Gonçalves Juliano (se quiser conhecer um pouco mais deste canalha, que é compositor dos hinos municipais de Pederneiras e Itanhaém, veja o vídeo abaixo). Foi ele quem fez eu amar Macunaíma e tornara-se cúmplice dos poemas que fazia naquele ano. Era uma espécie de ritual. O poema só ficava pronto depois de passar pelos olhos deste querido. Lembro-me perfeitamente a reação de um poema que fiz para conquistar uma mulher na sala, que resultou num namoro de 5 anos.

- Hum, onde você quer chegar? - perguntara-me com o seu olhar ácido.
"Na vida e na arte, temos sempre que ter a companhia do demônio" Oscar Wilde
Desde então, poemas chamam-me atenção. E sempre na ordem, uma primeira leitura avaliadora de merecimento da segunda leitura. Já que a segunda é artística e expressiva, onde ocorre a declamação. Quando o poema toca-me, na primeira leitura já estou a declamar. Adoro declamar poemas, e o faço em público após uma leve alteração no estado etílico.



Certa vez, uma amiga, escritora, poetisa e atual aluna de mestrado em história da literatura vinha da sua sessão de autógrafos da feira do livro da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e trouxe um exemplar do livro poetas de pijama (você pode lê-lo online aqui) ao nosso encontro, num bar na praia do Cassino. Quando passei o olho no Interessados, hum, que poema safado! E declamei para todos que estavam a celebrar, na nossa mesa e nas vizinhas. Após, Mitch disse, Renatão, eu fiz o poema para ser lido assim! E percebi mais um poder subliminar da poesia. Viva a poesia!

Interessados de Mitcheia Guma Pinto

Num estado
Não planejado
Tu vens comigo
Embaraçado
Calado
É engraçado
Não imaginado
Movimentado
E ritmado
Parece nos ter levado
Embriagados
Sem um passado
Ou desusado
O não falado...
Não fica parado!
Nem estamos cansados
E no chão, jogados
Os dois lado a lado
Corpos colados
Despedaçados
Lábios rosados
Rostos ruborizados
Corpos molhados
Os dois sossegados
Deitam realizados
Ápice alcançado!

Cartaz promocional do lançamento do livro em 2013.
O que achou?