segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa!

Mas, elas podem se misturar?

Estádio mais caro da copa ilustra um retrocesso, brigas entre torcidas retornam a cancha.

Primeiramente, vamos definir uma coisa, e a outra também.

Uma coisa

20 de fevereiro se 2013, estreia do Corinthians na copa interclubes mais importante do continente americano (posto que mexicanos também a jogam). Kevin Beltrame Espada, um torcedor de futebol apaixonado, decidiu viajar a Oruro especialmente pela oportunidade de ver o atual campeão mundial jogar contra seu time do coração, como revelou em uma reportagem o pai do garoto. Pois bem, uma tragédia do futebol mundial ocorreu. Por que? Algum insano levou um sinalizador marítimo para dentro de um estádio e não foi capaz de ler TRÊS instruções de manuseio. Muito embora que, por mais absoluta segurança que uma pessoa poderia ter em manusear, este artefato jamais deveria entrar num estádio de futebol. Pois bem, a polícia e autoridades bolivianas, sem saberem o autor do disparo, prenderam 12 torcedores brasileiros. Quatro deles, inclusive, já possuíam antecedentes criminais no Brasil.

Detalhe das 3 instruções de manuseio. Repare também o tamanho deste artefato. Faltou fiscalização na entrada do estádio, ou apenas o bom senso dos torcedores?

Nessas horas, muitos falam, fazem um escarcéu contra, outros a favor. E, claro, políticos e cartolas aparecem. Viajaram, inclusive, a Oruro com dinheiro público. Pois bem, o que se tira de proveito disso? Quais as atitudes que as autoridades brasileiras, bolivianas e sulamericanas tomaram para que este 20 de fevereiro seja o último caso de vítima fatal?

NA-DA!

O resultado? No Brasil, um menor, sócio da gaviões da fiel, se entregou a polícia em São Paulo e foi libertado. Na Bolívia, todos os detidos foram libertados. Os processos em ambos os países foram arquivados. Em toda a América e no mundo, torcedores continuam a fazer uso de sinalizadores, embora eu seja adepto desta prática, entretanto, com responsabilidade.

Não é privilégio brasileiro o uso de sinalizadores, muito menos a falta de responsabilidade com estes artefatos. Torcida organizada do FC Porto arremessa sinalizadores e árbitro encerra a partida amistosa com o RC Celta de Vigo (ESP).

Outra coisa

25 de Agosto de 2013, portanto, um pouco mais de seis meses da tragédia de Oruro. Um grupo de empresários adquire o mando de campo junto ao CR Vasco da Gama e decide que o jogo frente ao SC Corinthians Paulista será no estádio mais caro da copa do mundo, o Mané Garrincha. E decide também que será de torcida única. Isto mesmo, leitor(a), torcida ÚNICA.

Vejo a cena destes empresários numa sala cercados de puxas-sacos, chivas e charutos. Eles decidem que a partir de agora, como o estádio possui o selo padrão FIFA, os torcedores agora irão automaticamente mudar seus modos, como num passe de mágica. É muita desinformação destes sangues-sugas. Poxa, eles não tem conhecimento de toda a rivalidade estúpida que as facções insistem em manter, que já gerou inclusive mortes. Uma delas ocorreu em 2009, eu fui a este jogo, vi o ônibus da força jovem do vasco ser incendiado enquanto dirigia-me ao metrô para regressar à casa, em paz, obviamente. Clique aqui para ver uma reportagem do uol sobre este episódio.

Este episódio de Brasília, me faz lembrar de um passado recente, onde outro escarcéu também ocorreu sobre os atos de vandalismo durante a copa das manifestações. - Aliás, aqueles que defendem o fim das organizadas, o vandalismo da copa das confederações deixa claro que este ato não está apenas nestas agremiações, e mostra que devemos tratar o assunto como um problema social, onde não se aceitam as diferenças clubísticas, sexuais, religiosas, culturais, etc!

Nesta época das manifestações, vi uma charge que perguntava: O que é vandalismo? Enquanto pacientes aguardavam atendimento no chão de um hospital. Esta pergunta cabe perfeitamente para este momento. Será que deixar duas torcidas que tradicionalmente se enfrentam sem isolamento não é um vandalismo contra aqueles milhares de torcedores que adquiriram seus ingressos caríssimos, muito provavelmente depois de longa espera nas filas, e que imaginavam apenas estar ao lado de seus amigos, familiares em uma atração desportiva? Estes cidadãos não foram lesados?

Quais os tipos de vandalismo você identifica em uma mesma foto?

Aí, o que acontece depois? O mesmo blá-blá-blá para boi dormir, roteiro de cinema. Alguns são detidos, declaram ser inocentes, assinam um termo de compromisso e são liberados por "falta de provas". Horas seguintes, clubes e respectivas torcidas lançam notas oficiais, que já tem até estrutura literária. Primeiro, a entidade salienta que é contrário a violência. Depois, afirma que auxiliará nas investigações para que os responsáveis sejam exemplarmente punidos.

Podemos repetir uma das perguntas feitas na seção "Uma coisa".

"Pois bem, o que se tira de proveito disso?"

Também podemos repetir a resposta.

"NA-DA!"

Dessa forma, ao repetir a pergunta e a resposta, respondemos a primeira pergunta deste post, uma coisa pode se misturar com outra coisa? Infelizmente, ambas possuem o mesmo fim. Mas, tem mais misturas que podem ser identificadas. A mais urgente, alguns dos detidos em Oruro foram identificados no Mané Garrincha. Mas, mesmo se não fossem nenhum dos 12 presos no país vizinho. Essas pessoas estampam publicamente um carimbo na testa de todos, esses caras possuem imunidade diplomática, e olha que nem deputado possui mais este privilégio, vide Natan Donadon.

É sempre a mesma coisa!

Não é possível que...
- essas pessoas continuam a circular pelos estádios, sem receio algum de punição;
- não se saiba a origem do ingresso dos brigões;
- os empresários detentores do mando de campo ficarem apenas com o bônus (alguns milhões de reais) e deixarem o ônus apenas nas mãos dos clubes;
- as autoridades brasileiras, as mesmas que viajaram até Oruro, não virem a público com a mesma veemência enquanto pediam a libertação dos detidos;
- os cartolas não tratam do assunto nas federações, confederações e até na FIFA;
- considerem este fato como intrínseco a uma entidade, mas não como um problema social onde não se aceitam as diferenças.

Enfim, nunca tive tanta dificuldade em terminar um post, são tantas questões que foram levantadas, mas o que fica é a perplexidade da impunidade dos agressores que vestem uma camisa de um clube e o varrer para debaixo dos panos de um problema social. Varre o político, o cartola, as torcidas organizadas e, inclusive, o cidadão comum, que na primeira oportunidade rotula: "É a torcida do Corinthians!".

Ou seja, no próximo episódio de violência entre torcidas, virá a tona novamente todo este blá-blá-blá para acabar do mesmo jeito, debaixo do tapete. E, haja tapete!

O que achou?

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