terça-feira, 25 de março de 2014

Andar de ônibus...


Semana passada, soube da polêmica que envolveu a atriz Lucélia Santos ao ser retratada em um ônibus coletivo na cidade que reside, Rio de Janeiro. Uma senhora ofereceu-se para auxiliá-la com sua bolsa e quando deu conta que tratava-se de uma personagem pública, rapidamente postou nas mídias sociais. E aí está feita a oficina do diabo. "Não está fácil para ninguém" foi o nível dos comentários feito pelos navegantes. E aí, está a grande ironia.

O arquiteto e especialista em transporte público Flamínio Fichmann disse ao jornal El País, "Grande parte das pessoas que postaram essa foto (com os comentários maldosos) devem usar o transporte coletivo também", ou seja, "existe um preconceito das pessoas em relação a elas mesmas. É uma questão de autoimagem". Logo, usam o transporte público porque são obrigadas, por não terem condições para uma outra realidade. E não porque é mais proveitoso, rápido, ecológico e econômico, inclusive.

E isto não há outra maneira de mudar que não uma vontade das autoridades públicas e das empresas de transportes. Não basta apenas proibir veículos com idade avançada de circular e colar um adesivo em cada um com o ano de fabricação e início de circulação, como é em São Paulo. O que precisa resume-se a uma palavra: Respeito! Respeito ao cidadão, do usuário ao funcionário da empresa de transporte.

Aqui no Porto, há uma campanha de incentivo ao cidadão utilizar o transporte público. Parte disso, imagino, foi que as autoridades perceberam que apenas autocarros, comboios ou metros novos; horários cumpridos para cada ponto de paragem; informação dos horários e das linhas em TODAS as paragens; conforto; avisos eletrônicos e sonoros da próxima paragem; aplicativo de smartphone para auxiliar as viagens; etc, não foram por si suficientes para convencer o cidadão de utilizar o transporte público. E, então, investiram em campanhas publicitárias como as que você vê neste post.


A outra parte, é fruto de uma política inversa à lulista. Da necessidade de um continente, e especialmente do país, imerso numa forte recessão econômica. Não permitem-se que a agenda pós-troika seja a de consumismo, de fácil acesso ao crédito e de cortes nos impostos dos produtos industrializados e de derivados de petróleo, como ocorre agora no Brasil. País este que foi atingido apenas por uma "marolinha" nos tempos auge da crise mundial. Aqui, é o inverso, se não tem, não pode comprar! Essa foi a educação que ganhei de meus pais na infância. Só que esse raciocínio é recente e decorre do filme inédito no Brasil, mas que os portugueses já viram.

Uns tempos atrás, aqui na Europa não importava como o cidadão iria pagar, nem a urgência e necessidade do que ele queria comprar. Você quer este produto? Compra! Não tem dinheiro? O banco empresta-te, sem complicações. E aí, houve a falsa impressão de que a classe baixa e média está em ascensão social. Afinal, carrões e casarões passaram a fazer parte de quem jamais imaginava que um dia poderia ter acesso. E, deu no que deu. O mundo gritou por socorro e hoje assistimos matérias como essa: Mais pobres, mais desiguais. Entretanto, ao meu ver, nunca ficaram mais ricos, mas sim endividados. E pior, numa dívida que não há condições reais de pagamento.


Portanto, para mim, não há outra solução, que não vontade política para mudar o cenário do transporte público no Brasil. E, francamente, você acredita nisso?

“O Brasil é o único país que conheço em que andar de ônibus é politicamente incorreto! Vai entender...”, desabafou a atriz pelo twitter depois da polêmica. O legal de toda esta história é que agora que ela tem voz, pretende falar com empresários e prefeito.
“Decidi aproveitar essa oportunidade para discutir publicamente a situação dos transportes coletivos no Rio. Eu posso fazer isso muito bem. Dona Francisca, minha faxineira que viaja três horas de ônibus para chegar ao trabalho, meu caseiro, meus funcionários do dia a dia não podem. E os que poderiam discutir o assunto, pois têm verve e condições para fazê-lo, não o fazem porque são egoístas, estão escondidos e refugiados nos seus carrões muitas vezes blindados, com medo dos ‘pobres’.” disse Lucélia Santos ao jornal OGLOBO.

Que mais atrizes e personagens públicos façam mais pela sua cidade, pelo Brasil, pelo mundo.

O que achou?

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