sexta-feira, 11 de julho de 2014

Nega Velha

Minha Nega Velha eterna!
11 de julho de 2014. Este dia não é apenas a véspera de meu aniversário, onde também jogará a seleção brasileira. Sim, eles foram humilhados pela Alemanha, apenas para coincidirem de jogarem futebol no dia do meu aniversário e, amanhã, os onze entrarão no relvado com os bonés inscritos com a hashtag joga pra ele e hashtag parabéns. Opá, muito prazer, Renatão, ou apenas R9.

Hoje, partiu uma guerreira que acompanhou-me durante pelo menos 15/16 anos. A Lanterna, uma réplica de labrador. Esta cadela, embora prefiro chama-la cachorra, chegou a minha vida através da minha mãe. Na altura, minha mãe tinha uma oficina de jipe na favela da Joaniza, em SP. Sempre ofereciam serviços ou produtos em troca de um trocado. Eis que uma cachorra preta dentro do carrinho de um catador de lixo junto a papelão, latas de alumínio e pets foi oferecida:

- 5 real, dona.

E minha mãe comprou. Na época minha mãe tinha mania de por os nomes de peças ou até marcas de jipe nos cachorros. Biela e Willys são exemplos. Eu brincava que era para lembrar o cliente. E, à nega de 5 reais deu o nome de Lanterna. Eu ouvi piadinhas mais tarde do tipo, é para lembrar a posição do meu clube. Mas, a melhor, que virou até sobrenome, foi:

- ô Renatão, esta lanterna está queimada! (Uma alusão a coloração de minha companheira).

Lanterna Queimada sempre foi de pouca atividade, sempre adorou latir para cachorros livres na rua e sempre fora obediente.

A Lanterna adorava tomar banho em São Paulo, porque sempre após eu desfilava com ela pelas ruas. Pegava escondido o condicionador de minha mãe para o pêlo dela ficar brilhante e sedoso. Ela tinha uma curiosidade muito particular. A Lanterna, embora tenha origens nas classes baixas, odiava trabalhadores braçais. Incrível, ela só mordia pedreiro, entregador de gás, carroceiro e outros do gênero. Nunca entendi como podia ter esse faro.

A exceção talvez seja o entregador de pizza. Afinal, minha mãe ensinara que eles são amigos já que sempre que pedia pizza em SP, pedia também umas esfirras a nega. E ela tinha a astúcia de vir a porta da cozinha e latir como quem diria, mãe, chegou a pizza! E mesmo depois, ficava impaciente zanzando de um lado a outro a espera da janta.

Por muito tempo ela viveu na terra da garoa. Até que em 2008, minha mãe aceitara o convite de trabalhar na Angola. Então, levei para junto de mim, no extremo sul do Brasil. Ela foi de carro, no banco de trás, junto de uma tv de 29 polegadas. Não deu um trabalho sequer, salvo logo no começo quando minha mãe alimentou-a poucos minutos antes de cairmos na estrada. Senti um cheiro estranho e ela tinha chamado o Hugo.

Foi a primeira e, espero, a única vez que fiz o trajeto SP-RS pela BR-116. Parei num hotel e perguntei, vocês aceitam cachorros? O recepcionista disse sim, mas na hora que viu uma labradora e não uma yorkshire vociferou, Mas, com este cachorro terá que ficar no térreo e amanhã a proprietária pode cobrar-te uma diária a mais. Os quartos no térreo eram mais caros, mas o cansaço fez-me aceitar as condições.

Entramos no quarto, uma cama de casal redonda. Dei comida a ela e pus a dormir no banheiro. Quando deitei pensei na situação: se vais pagar uma diária, dormirá na cama. E lá ficou até eu sair.

Esta foto fica nítido porque o recepcionista se assustou com o que eu quis dizer se aceitavam cachorros
A Lanterna adora dar-me surpresas próximo de meu aniversário. A maior foi exatamente no dia dele, 12 de julho, quando nasceram a segunda ninhada da vida de Lanterna. Desta ninhada surgiram o Pinguim, a Massinha, o Farol e o Chibata, sendo os dois primeiros os que mais tempo permaneceram comigo. E por três anos, comemorei aniversário junto destes grandes amigos.

Hoje foi o dia dela partir e ficam aqui algumas palavras em homenagem a esta companheira a quem tanto amei.

Até um dia, minha nega velha. Também te amo!

Uma verdade absoluta no cemitério da Cardeal Arcoverde, SP.

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2 comentários:

  1. Respostas
    1. Grande! Obrigado pela visita irmão! Certamente, a nega foi feliz! Fizemos o que pudemos para que fosse assim!
      Abraços

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