segunda-feira, 14 de julho de 2014

A derrota de quem?


Este blog procura não falar de futebol. Não que eu não aprecie, pelo contrário, mas receio perder leitores que não gostem deste desporto e, por isso, evito o assunto. Mas, depois do Brasil levar 10 gols nas duas últimas finais do mundial 2014, ficou difícil de conter as palavras. Talvez se estivesse no Brasil, falaria pelos cotovelos com amigos(as) num boteco e este blog seguiria a regra.

Mas, amig@s, não é de hoje que o futebol brasileiro aponta defasagem em relação ao praticado em outras partes do globo. Em 2010, o SC Internacional foi eliminado de um mundial pelo Todo Poderoso Mazembe. Ano seguinte, um clube brasileiro, o SC Corinthians Paulista, foi, pela primeira vez -e até então única na história, eliminado na pré-libertadores, pelo Tolima, da Colômbia. O Santos FC levou duas goleadas do FC Barcelona, uma delas no mundial. No ano passado, o galo mineiro foi eliminado por uma equipa marroquina, na mesma competição organizada pela entidade maior. Agora, em 2014, dos quatros finalistas da copa libertadores, nenhum clube é brasileiro, o que não acontecia desde 1991. Repito, 1991.

Acontece que nestas horas é mais interessante gozarmos os rivais perdedores que sarar a ferida exposta. Os torcedores agem como marionetes, pois ao invés de cobrarem atitudes dos cartolas, vão ao CT e destroem patrimônios que o clube construiu ao longo de décadas. Pedem cabeças de jogadores. Vide o Fred neste mundial. Até hoje defendo o gajo. Por acaso foi o Fred quem convocou os 23 jogadores? Foi Fred quem escalou-se titular? E, do que vale ter Romário ou Ronaldo no time, se não há um Mazinho ou Rivaldo para os assistirem?

Isto tudo é tão orquestrado, que por vezes parece-me que já estava no script feito pelos cartolas para desviarem de seus focos as suas verdadeiras responsabilidades. Cria-se na verdade um escudo, quando cada um olha pro próprio rabo, leia-se clube. Mas, na seleção brasileira, numa copa do mundo, o cenário muda, pois estão finalmente todos num só ritmo. E aí, uma vitória serve para mascarar o que está errado e uma derrota serve para jogar tudo fora. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Quem acompanhou-me neste mundial pode confirmar, mas eu não dei muita bola para a canarinha. No jogo contra a Colômbia, em alguns momentos, torci até contra a seleção cebeefiana. Nos jogos do Brasil, sempre que tive a oportunidade de conversar com alguém não hesitei. Isto é estranho para um brasileiro?

Até seria se não fossem as minhas leituras acerca de:
1) como foi realizada esta copa no meu país;
2) como a cbf é um clube de amigos (com a conivência, inclusive, do meu clube de coração);
3) como o selecionador e sua comissão técnica é ultrapassada e midiática e;
4) como a FIFA mandou no meu país, onde passou por cima até a presidenta da república ao demolir a marquise do ex-Maracanã, patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2000.

Eu até teria outros motivos para listar, mas giram em torno destes 4, como por exemplo, a troca de treinador. Não aceito até hoje o Mano Menezes não ter tido a oportunidade de terminar o trabalho que lhe fora confiado. A base do time do sabichão Big Phill foi tirada de um trabalho de renovação que o Mano teve a coragem de fazer, após a era Dunga. Para piorar, uma troca que não foi por motivos técnicos, mas sim, novamente, para servir de escudo, já que Mano não gozava de popularidade e a máfia da CBF começava a ser denunciada massivamente pelos meios de comunicação, inclusive populares. Atentemos ao recente currículo do novo selecionador: 1) perdeu uma eurocopa por Portugal, disputada em casa, para a Grécia; 2) demitido do Chelsea antes do término da temporada, quando ainda havia mais dois anos de contrato; 3) demitido de um clube usbeque; 4) rebaixou, pela segunda vez na história, a SE Palmeiras. Depois de tudo isso, é difícil aceitar que os critérios para a troca foram técnicos/tácticos.

Paul Breitner, campeão mundial em 1974 pela Alemanha ocidental, participou de uma sabatina no programa Bola da Vez, exibido pelo canal ESPN Brasil, em abril de 2013 e disse que o Brasil "precisa aceitar que joga um futebol do passado". Não soa-te estranho que Ronaldo fenômeno, Deco, Juninho Pernambucano e Seedorf tenham passagens recentes, curtas e brilhantes pelo Brasil onde na Europa já não havia mais espaço para eles? O reizinho da Colina sequer conseguiu destacar-se na MLS (Major League Soccer) em seu final de carreira e regressou ao CR Vasco da Gama após recindir seu contrato nos EUA.

Mas, o que cuidam do futebol acham que sabem tudo deste desporto, quando não são capazes de fazer sequer uma embaixadinha, como disse Romário. Nesta mesma sabatina, Breitner dizia que a Alemanha, até 2002, pensava apenas de dois em dois anos, quando disputavam o mundial ou a eurocopa. E, quando venciam um torneio, acreditavam que os alemães sabiam tudo de futebol, e que eram os outros quem deveriam aprender com eles sobre futebol e cravou: "o Brasil acha isso hoje!". E não é que o Scolari confirmou ontem, após a derrota para a Holanda, exatamente o que Breitner disse em 2013. "Eu? Não preciso [de reciclagem]. Quando ganhei a Copa das Confederações não veio ninguém aqui para se reciclar", arrotou o comandante gaúcho.

Paul Breitner aposentou-se um ano antes de eu nascer. Um ano antes de eu nascer também jogou aquele que é considerado pelo mundo inteiro o melhor Brasil que já entrou em campo, a seleção de 1982. Sócrates, Falcão, Júnior, Zico e cia não foram campeões mundiais, mas foram responsáveis pelo temor que as demais seleções tem ao jogar contra o Brasil. Temor este que esta seleção de Teixeira, Marin, DelNero, Felipão e Parreira acabara de jogar no lixo.


Juca Kfouri deu a seguinte legenda a esta foto: Missão cumprida!
"jogar futebol é um prazer, mas estou cansado das coisas que acontecem fora de campo" (Paul Breitner quando anunciou a aposentadoria).
O que achou?

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