segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Quem é o seu inimigo?

As torcidas organizadas dos quatro grandes de SP, além do E.C. XV de Novembro e E.C. Santo André, uniram-se num ato histórico em homenagem aos familiares e amigos das vítimas. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Domingo, 4 de dezembro de 2016, foi um dia histórico!

Não pelas manifestações "contra a corrupção", organizadas por grupos golpistas. Digo pelas torcidas organizadas que estiveram presentes na praça Charles Miller. Não haveria cenário melhor que o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, onde todas as torcidas paulistas já entraram pelo portão principal.

O velho Paca com seus longos 76 anos corre o risco de ser vendido na próxima gestão municipal Foto: Arquivo pessoal.
Paira sob a humanidade um mal criado e alimentado pelo único ser racional da Terra. Não raramente, o capital é posto acima do social e ambiental. E a história nos mostra que são estes momentos os embriões de tragédias, como em Mariana, MG. Infelizmente, uma dessas foi a de um avião tripulado por uma delegação que ambicionava uma vitória continental, e que voou tão alto que conquistou o mundo!

Nem mesmo o mais crédulo dos humanos acreditaria no que viu em Medellín. Mais de cinquenta mil pessoas, dentro e fora do estádio Atanasio Girardot, choraram as mortes de 71 pessoas, nenhuma colombiana. A grandeza do Club Atlético Nacional e de sua torcida tornou o verde da Associação Chapecoense de Futebol em eternos campeões.

Torre Eiffel, Estádio de Welbley, Cristo Redentor e Allianz Arena foram alguns dos monumentos ao redor do mundo que prestaram suas homenagens à Chapecoense. Foto: Reprodução.
No mundo inteiro, muitas foram as homenagens às vítimas desta fatalidade. A #ForçaChape ecoou nos quatro cantos e diversos estádios cantaram Vamos Vamos Chapê! Entretanto, um desses cânticos não era aguardado por um sistema paulista, colegiado — com a conivência dos clubes — entre Federação Paulista de Futebol, Governo Estadual, Assembleia Legislativa e Ministério Público Estadual. O ato ocorrido neste domingo (04/12/2016) serviu como uma rasteira neste sistema podre que só retira a essência do futebol.

Retiraram dos paulistas: bandeiras, pirotecnia, instrumentos musicais, balões, faixas, roupas, cerveja, papel picado, a barraca do sanduíche de pernil, torcida visitante... praticamente retiraram a mística e a tradição do futebol. Com os preços impopulares e a complexidade para a aquisição dos ingressos (cartão da FPF, cartão sócio-torcedor), até o torcedor de uma certa forma é retirado dos jogos. Como bem disse Arnaldo Ribeiro, no programa Linha de Passe, da ESPN Brasil, São Paulo é o túmulo do futebol brasileiro. Desde de 1995, o torcedor paulista assiste calado à morte lenta e dolorosa do futebol justificada no combate à violência nos estádios. Mais de 20 anos passaram-se e as soluções são sempre as mesmas: privar as torcidas daquilo que sabem e amam fazer: festas nas arquibancadas em prol de seus clubes. Sempre que há a oportunidade, surgem as figuras públicas oportunistas com suas varinhas mágicas contendo as soluções que não passam de ideias pífias que envenenam o futebol paulista. Ao torcedor restou aceitar as diversas punições de Eduardo José Farah, passando pelo tio da merenda Fernando Capez até o ministro da bala Alexandre de Moraes.

Entretanto, ironicamente, foi na morte que o futebol paulista respirou. É como se a hinchada do Atletico Nacional ressuscitasse não apenas os jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas e demais tripulantes, mas o futebol em si, na sua essência, na alegria. Como se ele quisesse dizer, Estou vivo. O futebol vive!

No Instagram, o movimento foi comemorado por jogadores como o Renato Augusto e Elias. Foto: Reprodução.
A mensagem passada neste ato na praça Charles Miller foi clara: As torcidas não são marionetes do sistema! 

O futebol não quer mais este câncer que se retro-alimenta na máxima: matem-se uns aos outros. Pelo contrário, mostraram que "é possível ter uma união mantendo a rivalidade. Queremos que a felicidade volte ao futebol. Contra o futebol moderno e a favor do povão", disse em entrevista ao Esporte Interativo o corintiano Chico Malfitani, fundador da Gaviões da Fiel, presente no ato.

Alguns amigos classificam o movimento como demagogo e criticam que este pacto de PAZ durou apenas aquelas horas e que na primeira oportunidade lá estarão eles mesmos prontos para matarem-se novamente. Eles podem ter razão, aliás, a história sustenta a teoria deles. Mas o verde da Chapecoense também é o verde da esperança. Esperança de que este gesto de PAZ seja contagioso. Esperança de que todos os torcedores enxerguem que o verdadeiro inimigo deles não são os rivais, mas sim, o sistema. E que juntos as torcidas são mais fortes para renascer a alegria nos estádios paulistas.

Por isso a pergunta ao torcedor: Quem é o seu inimigo?

Aquele que veste as cores diferentes das tuas ou o sistema que mata mais do que ninguém? Segundo dados da SSP, em 2015, 798 pessoas foram mortas no Estado e outros 711 foram feridos pelas polícias civil e militar.

É hora de TODOS lutarem pela festa na arquibancada. E há exemplos em SP de torcidas que fazem da PAZ uma prática diária. Eu sou sócio de uma delas, Estopim da Fiel, desde 1979 praticando a PAZ.
As lideranças tem papel fundamental no retorno da festa aos estádios paulistas, mas também é preciso cada um fazer a sua parte. Torcedor leve a PAZ e o teu amor ao clube para os estádios, o resto é pra tirar onda. Foto: Reprodução.
#ForçaChape

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